MPSC apura erro em imunização de recém-nascidos no Hospital Santa Cruz de Canoinhas
Vacina contra a hepatite B vem em frasco semelhante ao contra veneno de jararaca
Os bebês receberam soro antibotrópico, utilizado contra picada de cobra no lugar da vacina contra hepatite B
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) abriu uma notícia de fato para apurar a troca de vacina por soro contra veneno de jararaca administrado em 11 recém-nascidos no Hospital Santa Cruz, em Canoinhas, na semana passada. O caso foi revelado na segunda-feira, 14, pelo JMais. As crianças receberam soro antibotrópico, um tratamento de emergência para picadas de cobra, em vez da vacina contra hepatite B, que é obrigatória nas primeiras horas de vida.
A 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas tomou a iniciativa após a divulgação do ocorrido na mídia. O promotor Leonardo Lorenzzon ordenou que fossem coletadas informações iniciais junto ao hospital, à prefeitura e à Gerência Regional de Saúde, dando um prazo de 10 dias para que as entidades respondam.
De acordo com informações apuradas pelo JMais, a confusão entre os frascos de vacina e soro pode ter ocorrido devido à semelhança nas embalagens. Apesar do erro, até o momento, os bebês não apresentaram reações adversas ou complicações de saúde.
Para esclarecer a situação, o MPSC requisitou ao Hospital Santa Cruz detalhes sobre a data do incidente, o armazenamento dos medicamentos, a identificação dos profissionais envolvidos, a comunicação com os conselhos de classe, um relatório sobre a saúde dos bebês afetados e as medidas adotadas para evitar que novos erros ocorram.
Além disso, a Gerência Regional de Saúde também foi questionada sobre seu conhecimento do caso e as ações que tomou em resposta. A promotoria também está interessada em saber se há algum convênio entre o hospital e a prefeitura, assim como quais são os mecanismos de fiscalização implementados pela administração pública local. “O objetivo é reunir elementos que permitam avaliar se este procedimento deve evoluir para um inquérito civil ou se outras medidas judiciais são necessárias”, disse o promotor Lorenzzon.
“É importante destacar as diferenças entre a vacina contra hepatite B e o soro antiofídico. A vacina é crucial para prevenir infecções pelo vírus da hepatite B, que pode causar sérias doenças hepáticas, enquanto o soro é um tratamento específico para neutralizar venenos de cobras e deve ser administrado apenas em situações de emergência”, diz a promotoria.
HSCC
A gestora do HSCC, Karin Adur, disse que antes mesmo de o MP abrir a notícia de fato, a direção do Hospital já tinha procurado a instituição para inteirar o promotor sobre o caso. O promotor informou, então, que abriria o procedimento para proceder uma investigação formal. “Recebemos a abertura desse procedimento certos de que o MP contribuirá para o que o Hospital também quer, que é o esclarecimento dos fatos de forma justa e correta”, afirma Karin.
MUNICÍPIO
O Município de Canoinhas disse em nota que recebe com naturalidade o ingresso ativo do Ministério Público no caso que apura a aplicação de soro contra a picada de cobra em recém-nascidos na maternidade do Hospital Santa Cruz.
“A atuação do MP soma-se às ações já em andamento pela Secretaria Municipal de Saúde e à auditoria externa que está sendo contratada pela prefeitura. Embora o Hospital Santa Cruz seja uma instituição filantrópica, recebe recursos públicos e, por isso, deve seguir critérios rigorosos de qualidade e segurança no atendimento à população. Esta auditoria busca apurar todas as condutas e serviços prestados dentro do hospital”, diz a nota.
O Município, por meio da Vigilância Epidemiológica, segue monitorando os nove bebês residentes em Canoinhas. Até a manhã desta quinta-feira, 17, nenhum apresentou reações adversas.
“A Secretaria de Saúde mantém o acompanhamento contínuo do caso e reforça seu compromisso com a transparência, a responsabilidade na apuração dos fatos e, principalmente, com o monitoramento às famílias e aos bebês afetados”, encerra a nota.