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Com tarifaço, moveleiras de São Bento do Sul colocam 3 mil funcionários em férias coletivas

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Cidades do Paraná também estão tentando contornar problema sem demissões

A crise provocada pelo tarifaço de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, cuja validade começou na semana passada, já provoca efeitos em empresas da região. A princípio, a indústria da madeira recebeu com alívio as várias exceções apontadas por Donald Trump, incluindo vários derivados de madeira. Uma análise mais cuidadosa e consultas a parceiros estadunidenses, levaram os madeireiros da região a agir com mais cautela.

 

Foram os próprios parceiros estadunidenses que fizeram soar o alarme, ao suspender os pedidos feitos para serem entregues a partir de 1º de agosto. Dessa forma, há várias empresas com estoques de madeira em seus pátios, incluindo a indústria moveleira de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre.

 

Em Canoinhas e Três Barras, ocorre o mesmo com empresas que vendem madeira serrada ou compensada e que têm nos Estados Unidos seu principal mercado consumidor. Há poucos dias o presidente do Sindicato da Madeira (Sindimadeira) de Canoinhas disse informalmente ao JMais que “nenhum mercado substitui o americano”, dando uma ideia da crise. Procurado para dar um panorama da crise, José Fuck se limitou a dizer “estou viajando”, mesmo antes de ser questionado.

 

Como o JMais mostrou recentemente, baseado em dados divulgados pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), o Planalto Norte é a região do Estado que mais está sentindo os efeitos do tarifaço já que é a região que mais exporta aos Estados, com 42% do que vai para fora do País sendo remetidos aos Estados Unidos no ano passado.

 

MOVELEIRA

 

As indústrias de móveis de São Bento do Sul já contabilizam cerca de 3 mil empregados em férias coletivas. O setor emprega 7 mil pessoas. No ano passado, as empresas da região exportaram US$ 123,4 milhões (os EUA responderam por 62% do total).

 

Luiz Carlos Pimentel, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmobil), que reúne 398 fabricantes do setor, espalhados pelos municípios de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre, conta que os importadores americanos já haviam pedido para segurar os embarques desde que o tarifaço de 50% foi sinalizado por Trump, em 9 de julho.

 

Segundo Pimentel, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, até o momento não houve demissões. “Mas, se esse quadro for mantido e os clientes americanos não autorizarem os embarques ou não colocarem novos pedidos, deverá ter um ajuste nos quadros.”

 

ESTADO

 

Na região mais industrializada de Santa Catarina, duas cidades estão entre as 10 brasileiras mais afetadas. Jaraguá do Sul e Joinville configuram nas posições 6ª e 9ª em um ranking feito pelo jornal O Estado de S.Paulo com base no Ministério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Entre os produtos taxados estão café, carne bovina, frutas, produtos têxteis, calçados e móveis, por exemplo. A cidade que mais arrecadou com os Estados Unidos em 2024, e que agora é prejudicada pela imposição estadunidense, é Piracicaba (SP) que exportou US$ 1 bilhão em caldeiras, máquinas e instrumentos mecânicos.

 

Jaraguá do Sul arrecadou US$ 245 mil em máquinas, aparelhos e materiais elétricos; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, imagens e de som em televisão, indica o levantamento do Estadão.

 

Já Joinville exportou no ano passado US$ 228 mil em caldeiras, máquinas e instrumentos mecânicos. As duas cidades ainda aparecem em outras posições com a arrecadação de outros produtos. Em 2024, Jaraguá do Sul exportou mais de US$ 1 bilhão, sendo 25% deste valor, para os Estados Unidos. Só a empresa WEG responde por 90% desse valor.

 

Pablo Felipe Bittencourt, economista-chefe da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), diz que a estimativa que se tem é de uma perda de PIB em torno de 0,3% para o espaço de um ano e meio a dois anos para o Estado. Trata-se de um impacto pronunciado numa economia que cresce entre 3,5% e 4% ao ano.

 

SUL DO PARANÁ

 

No sul do Paraná, a situação também é crítica. A Randa, fábrica de portas de Bituruna, molduras e compensados de madeira que exporta para os Estados Unidos há 20 anos, por exemplo, anunciou na sexta-feira, 8, que dará férias coletivas, em rodízio, a todos os seus 800 trabalhadores – 400 entraram na sexta e os outros sairão quando o primeiro grupo voltar. Com isso, vai paralisar metade da sua produção. De tudo o que fabrica, 55% é destinado aos Estados Unidos.

 

A Randa é a maior empresa de Bituruna e foi diretamente impactada pelo tarifaço. A empresa estima que 80% da economia do município gire em torno da indústria, somando os empregos diretos e indiretos, fornecedores e o consumo no comércio local.

 

A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), da qual o CEO da Randa, Guilherme Ranssoli, é vice-presidente, contratou um escritório nos Estados Unidos para subsidiar o setor e fazer lobby com autoridades americanas. As respostas que têm vindo, porém, são de que só haverá algum avanço com uma negociação direta entre os governos do Brasil e dos EUA.

 

 

SALADA DE CÓDIGOS

 

Eduardo Valente / Secom

As diferenças nas regras e códigos de comércio exterior entre o Brasil e os Estados Unidos têm gerado confusão entre os exportadores, especialmente com a nova tarifa. Muitas empresas estão buscando ajuda de advogados, consultores e despachantes aduaneiros para entender se seus produtos estão isentos dessa tarifa. Entre eles, os madeireiros, já que há vários produtos de madeira que entraram para a lista de exceções.

 

A situação é complexa, pois as descrições dos produtos na Tabela Tarifária Harmonizada dos Estados Unidos (HTSUS) não coincidem com a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) do Brasil. Enquanto o sistema americano utiliza códigos de dez dígitos, o brasileiro se limita a oito, levando a muitas incertezas. Além disso, há dúvidas sobre se a isenção se aplica a um item específico ou a um grupo inteiro de produtos. Outro caso em que a madeira se encaixa.

 

 

Gabriel Rodriguez, despachante aduaneiro, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, destaca a confusão em relação aos códigos aplicáveis e menciona que sua função mudou significativamente, com foco em consultorias sobre as tarifas. E essa confusão não afeta apenas as exportações diretas para os EUA; muitas vezes, as descrições dos produtos variam entre os atos executivos de diferentes países, complicando ainda mais as vendas para países terceiros que exportam para os EUA.

 

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, ressalta que a insegurança é uma preocupação constante para os exportadores. Ele observa, também à Folha de S.Paulo, que, em muitos casos, as descrições dos produtos isentos ou taxados não coincidem com os acordos comerciais, como o USMCA, que inclui Estados Unidos, México e Canadá.

 

Além disso, a investigação americana da seção 301 sobre práticas comerciais do Brasil traz mais dúvidas sobre quais produtos estão sujeitos às tarifas.

 

 

QUANTO O PLANALTO NORTE E REGIÃO EXPORTARAM EM JUNHO/25 PARA OS ESTADOS UNIDOS

 

Canoinhas: R$ 740 mil – Madeira e móveis: madeira serrada.

 

Porto União: R$ 331,2 mil – Madeira e móveis: madeira compensada, obras de carpintaria para construções;

 

Santa Cecília: R$ 1,35 milhão – Madeira e móveis: madeira compensada e outros móveis;

 

Timbó Grande: R$ 909,19 mil – Madeira e móveis: madeira compensada;

 

Três Barras: R$ 2,81 milhões – Madeira e móveis: madeira compensada.

 

Itaiópolis: R$ 854,74 mil – Equipamentos elétricos e máquinas e equipamentos: refrigeradores, motores elétricos, outros produtos de ferro, aparelhos de controle.

 

Mafra: R$ 762,97 mil – Madeira e móveis: madeira compensada, outros móveis, obras de carpintaria para construções, outros artigos de madeira.

 

Papanduva: R$ 442,74 mil – Madeira e móveis: madeira em forma, madeira serrada.

 

Rio Negrinho: R$ 4,35 milhões – Madeira e móveis: madeira em forma, outros móveis, madeira serrada.

 

São Bento do Sul: R$ 4,2 milhões – Madeira e móveis, cerâmico, têxtil, confecção, couro e calçados, automotivo, indústria diversa: outros móveis, louças de cerâmica, roupas de cama e toucador de cozinha, assentos.

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